E aí pessoal, resolvi
aproveitar a postagem da Luiza Magrini, pra acrescentar este texto do
jornalista Pedro Só, que está no encarte original do Tudo Foi Feito Pelo Sol, com várias
curiosidades da gravação do disco. É pra aguçar ainda mais a vontade de ouvir
esta preciosidade do rock progressivo brasileiro.
''Os
anos 70, como bem descreveu a jornalista Ana Maria Bahiana, são a década em que
o rock’n’roll rachou. Tal cisão já estava presente antes mesmo do levante punk
de 1976. Mas, dali em diante, não houve mais retorno: a maioria das visões
histórias divulgadas descartou o chamado rock progressivo como uma espécie de
desvio reacionário e pretensioso que descaracterizou temporariamente o gênero
musical. Tal noção é um clichê repetido preguiçosamente ao longo dos anos, um
preconceito que não sobrevive à pesquisa e, principalmente, à audição dos
discos.
Se
hoje existe um consenso histórico intergeracional consagrando os Mutantes como
maior grupo de rock brasileiro em todos os tempos, é fato pouco divulgado que o
prestígio internacional dos Mutantes nos anos 80 deve bastante a Tudo Foi Feito Pelo Sol. Nessa época, a
penúltima obra lançada pela banda de Sérgio Dias era cultuada por
colecionadores europeus e reputada como o melhor disco do progressivo
brasileiro.
Para
quem aprecia o rock musicalmente enriquecido dessa injustiçada escola, estamos
diante de uma viagem e tanto. Tem todo o rigor estético associado a grupos como
Yes e Emerson, Lake & Palmer, expoentes do progressivo. Mas é impossível
deixar de reparar que entre suas faixas estão rocks rasgados e nada pretensiosos,
com sabor deliciosamente hippie nas letras, casos de ‘’O Contrário de Nada é
Nada’’ e ‘’Cidadão da Terra’’. As sete faixas da edição original foram gravadas
ao vivo no estúdio RCA, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Sem playback,
esbanjando entrosamento e competência aos instrumentos, como era moda no rock
hegemônico de então. Também seguindo o espírito dos anos de desbunde, diz a
lenda que tudo foi composto sob a inspiração do LSD. A biografia A Divina Comédia dos Mutantes, de Carlos
Calado, ratifica essa informação. É só escutar para acreditar e, como se dizia,
na época, curtir o barato dos caras.
Os
Mutantes entre 1974 e 1976 foram uma empreitada do guitarrista Sérgio Dias. Ele
já vinha ao leme após as saídas de seu irmão Arnaldo Baptista e de Rita Lee
quando o baterista Dinho vazou, em 1973. Liminha pipocou no ano seguinte, pouco
antes do registro de Tudo Foi Feito Pelo
Sol. O tecladista mineiro Túlio Mourão (ex-Veludo Elétrico) ganhou espaço
como parceiro de Sérgio, mas essa foi uma fase ‘’carioca’’ dos Mutantes, que
gravitavam pelo Jardim Botânico (onde morava Eunice, namorada de Sérgio) e pela
serra de Itaipava, num sítio descolado pelo então empresário da banda Samuca
Wainer (na verdade, o sítio pertencia a seu pai, o jornalista Samuel Wainer). O
niteroiense Rui Motta respondia pelas baquetas e seu conterrâneo Antônio Pedro,
outro ex-Veludo Elétrico, foi chamado às pressas para substituir Liminha no
baixo.
Tudo Foi Feito Pelo Sol saiu em outubro de 1974 e não só
garantiu a sobrevivência dos Mutantes como foi o disco do grupo que mais vendeu
à época de seu lançamento: quase 30 mil cópias, praticamente o dobro dos LPs
anteriores. No ano seguinte, os Mutantes ficaram em segundo lugar numa eleição
de ‘’Melhor Conjunto Nacional’’ realizada entre os leitores da revista Pop (o
colega progressivo O Terço, então vivendo um boom com o disco Criaturas da
Noite, foi o campeão). Serginho (assim, no diminutivo e sem o sobrenome
Dias) venceu na categoria Melhor Instrumentista Nacional, derrotando Hermeto
Pascoal. As razões para esse sucesso podem ser ouvidas novamente agora. Sem
filtros, bicho!’’ Pedro Só.
01 - Deixe entrar um pouco d'água no quintal
02 - Pitágoras
03 - Desanuviar
04 - Eu só penso em te ajudar
05 - Cidadão da Terra
06 - O contrário do nada é nada
07 - Tudo foi feito pelo sol
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